terça-feira, 18 de julho de 2023

ENTRE INSTITUIÇÕES E FACHADAS: a metamorfose arquitetônica em art déco de Santo Antônio do Salto da Onça/RN



Com Getúlio Vargas assumindo a Presidência da República após a Revolução de 1930, o país passou por um amplo contexto de reformas modernizadoras. Os governadores estaduais foram substituídos por Interventores e as antigas Intendências que administravam as vilas e cidades foram extintas. O Poder administrativo municipal sofreu fortes mudanças: o Executivo e o Legislativo foram separados deixando de coexistir na mesma instituição. O Conselho de Intendência Municipal deu lugar a uma Câmara Municipal de Vereadores e a uma Prefeitura (LEAL, 1993).

Na Vila de Santo Antônio, o antigo edifício da Intendência não sofreu mudanças. As novas instituições, a Prefeitura e a Câmara Municipais, passaram a funcionar no antigo prédio. Aqueles que eram Intendentes passaram a exercer cargos de prefeito e de vereadores. Além dos nomes das instituições, nada mudou muito. Uma mudança de fachada, como diz o ditado popular.  

Entretanto, as residências da população brasileira pareciam adotar uma mudança. Algo novo surgia nas fachadas das casas. As cores mais claras e tons suaves, como o branco, o azul, o creme e o rosa passaram a colorir a paisagem urbana nas fachadas menos rebuscadas. O estilo Eclético, marcado pelo excesso de adornos e floreios deu lugar a listras, faixas e frisos. As linhas retas passaram a ser um padrão que todos gostariam de ter em suas residências, como podemos ver na imagem 1, Residências na rua Padre Cerveira.


Imagem 1: Residências na rua Padre Cerveira. Fonte: o Autor, 2023.



Nesse contexto de mudanças políticas nacionais, entre os anos de 1930 e 1935, o maior edifício da Vila de Santo Antônio foi inaugurado. O Mercado Público Municipal estreava uma “nova política” urbana e abria caminho para a modernização da sociedade. O concreto armado foi usado pela primeira vez na cidade e a fachada do novo centro comercial público se erguia imponente com suas faixas e frisos, como pode ser visto na imagem 2, o Mercado Público. Anunciava-se, assim, uma nova moda em Santo Antônio: o Art Déco.


Imagem 2: O Mercado Público. Fonte: o Autor, 2023



Hoje, essa arquitetura não é mais usada e muito menos temos a preocupação de conservar os edifícios que ainda resistem ao tempo e que carregam as ruínas do estilo francês, moda internacional no século XX. Entretanto, ao observamos um prédio em Art Déco, ele nos remete a uma tática de como as classes sociais agiram para parecerem modernas, imitando os edifícios das grandes cidades. A partir deles podemos perceber como as classes econômicas médias e baixas imitaram, copiaram e adaptaram os edifícios das classes econômicas abastadas, que tinham acesso aos profissionais e aos novos materiais de construção, como o concreto armado (BARTHEL, 2015).

Na Vila de Santo Antônio, a partir dos anos 1930, muitas das residências novas, construídas nas ruas paralelas e perpendiculares à Rua Grande foram adornadas com as faixas, os frisos, as linhas verticais, a platibanda escalonada e com a pestana em concreto, como podemos observar na imagem 3. Esses adornos se transformaram na maquiagem da modernidade (FARIAS, 2018).


Imagem 3: Casarão da Rua Quintino Bocaiúva. Fonte: o Autor, 2023


Navios transatlânticos, revistas especializadas em moda e o cinema deram cabo de espalhar pelo mundo o novo conceito de arte, de arquitetura, de moda, de estilo: o Art Déco passou a ser cobiçado por todas as classes sociais. Nas grandes cidades, os imensos edifícios foram construídos arranhando os céus das metrópoles (FARIAS, 2018). Nas cidades pequenas, os comerciantes que viajavam aos grandes centros voltavam com a novidade. Intercambiavam-se os saberes.

Novas casas de comércio passaram a ser construídas em alvenaria estrutural e viraram moda. O desejo de mudança e o anseio pelo moderno contagiaram também as residências. Casas eram reformadas ou construídas com as platibandas altas, simétricas, adornadas com ornamentos geométricos entraram no gosto da população, transformando-se hoje em uma evidência de desejo de mudança, de novo, de moderno que atingiu as diferentes camadas sociais no século XX (BARTHEL, 2015), como podemos ver na imagem 4, Casarão Estelo Fontoura e na imagem 5, Casarão Antônio Maia.



Imagem 4: Casarão Estelo Fontoura. Fonte: o Autor, 2023.


Imagem 5: Casarão Antônio Maia. Fonte: o Autor, 2023.


Os governos estaduais e o governo federal do regime varguista passaram a incentivar a nova moda, o moderno, o Art Déco. Os bancos públicos foram construídos no novo estilo, bem como os Correios, os grupos escolares, hospitais, cinemas, estádios de futebol, ginásios, praças e diversos outros equipamentos públicos (BARTHEL, 2015). É nesse contexto que Santo Antônio deixa de ser Vila e é transformado em Cidade, pois o governo de Vargas entendia que nenhum município brasileiro poderia ser sediado por uma vila. Tudo indica que essa mudança de condição em nada mudou no contexto social. A Vila deixou de se chamar Vila e passou a ser chamada de Cidade. A nova de Cidade não deixou de ser uma vila e mais uma vez, a mudança foi de fachada. 

Em Santo Antônio, além do Mercado Público, alguns outros edifícios portam as marcas dessa modernização, como o Grupo Escolar Dr. Manoel Dantas, observável na imagem 6, inaugurado em 1929, e os armazéns de algodão espalhados pelas periferias da Vila e pelos interiores rurais. O armazém da família Mandú, na Rua Padre Cerveira, é um ótimo exemplo do estilo Art Déco, com sua platibanda adornada de elementos geométricos e sua marquise em concreto armado, como podemos visualizar na imagem 7, Armazém Mandú.



Imagem 6: Grupo Escolar Dr. Manoel Dantas. Fonte: Facebook, 2023.


Imagem 7: Armazém Mandú. Fonte: o Autor, 2023.

Atualmente, diversas residências de Santo Antônio ainda apresentam elementos decorativos em suas fachadas remanescentes da influência do Art Déco como cubos, prismas, losangos, círculos, retângulos, elipses, destacados por cores diferentes de pintura nas paredes, como na imagem 8, Platibanda com faixas sobrepostas, retângulos e frisos, e na imagem 9. A decoração em Art Déco resiste! É um sinal da identidade local, que é e foi ao mesmo tempo uma forma de resistência, um saber-fazer e um diálogo através do contato, como a moda, evidenciando a inventividade e a criatividade das pessoas (CERTEAU, 1998).


Imagem 8: Platibanda com faixas sobrepostas, retângulos e frisos. Fonte: o Autor, 2023 


Imagem 9: Platibanda com Triângulos, Platibanda com Prismas e Platibanda Escalonada. Fonte: o Autor, 2023.



Ao observar a influência do estilo Art Déco na arquitetura de Santo Antônio, percebemos não apenas um movimento estético, mas também um reflexo das transformações sociais e econômicas da época. Embora essas construções não sejam mais amplamente utilizadas e muitos edifícios tenham sido perdidos ao longo do tempo, eles ainda carregam a história e a identidade local. As residências e edifícios adornados com elementos geométricos e cores vibrantes são testemunhos do desejo de modernidade e da capacidade das diferentes camadas sociais de se adaptarem às tendências arquitetônicas e às transformações sociais, econômicas e culturais ocorridas no Globo.

O Art Déco em Santo Antônio do Salto da Onça é mais do que uma mera expressão estética, é um símbolo de resistência e um diálogo entre as classes sociais, entre as diferentes cidades. As influências provenientes de navios transatlânticos, revistas especializadas em moda, o cinema e a Ditadura Varguista disseminaram um novo conceito de arte, arquitetura e estilo que foi desejado, imitado e replicado por todas as classes sociais. Esse movimento transformou não apenas a paisagem urbana, mas também a forma como as pessoas buscavam expressar sua identidade e inserir-se em um contexto de modernidade.


 

OBS.: ao ler este artigo, você pode sentir falta de mais fontes para certificarem a pesquisa que embasa a escrita, entretanto, por se tratar de um recorte de uma pesquisa de mestrado, no momento, o autor não pode divulgar as fontes com mais detalhes devido o ineditismo da pesquisa.

 


PARA REFERENCIAR ESTE ARTIGO:


NOGUEIRA, Vyctor. Entre instituições e fachadas: a metamorfose arquitetônica em Art Déco de Santo Antônio do Salto da Onça. In. Salto da Onça: Memória e Patrimônio. Disponível em: https://saltodaoncamemoriaepatrimonio.blogspot.com/2023/07/entre-instituicoes-e-fachadas.html Acesso em: dia mes. ano. 


  
REFERÊNCIAS: 

BARTHEL, Stela Gláucia Alves. Vestígios do Art Déco na cidade do Recife (1919-1961): abordagem arqueológica de um estilo arquitetônico. Orientador: Prof.ª Dr.ª Ana Catarina P. T. Ramos. 2015. 342 f. Tese (doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Arqueologia, CFCH, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2015.

CERTEAU, Michel de. A invenção do cotidiano: artes de fazer. 3 ed. Petrópolis: Vozes, 1998.

FARIAS, Fernanda de Castro. As expressões da modernidade no Brasil: o lugar da arquitetura associada ao termo art déco. Orientadora: Profª. Drª. Nelci Tinem. 2018. 277 f. Tese (Doutorado) – Programa de Pós-Graduação em Arquitetura e Urbanismo, PPGAU, Universidade Federal da Paraíba, João Pessoa, 2018.

LEAL, Victor Nunes. Coronelismo, enxada e voto: o município e o regime representativo no Brasil, 6ed, São Paulo: Alfa-Ômega, 1993.

Esporte Manoel Dantas. Álbum de Fotos. Santo Antônio, RN, 26 set. 2022. Facebook: Manoel Dantas futebol e entretenimento. Disponível em: https://www.facebook.com/esportemanoeldantas/photos. Acesso em: 18 jul. 2023. 

PEREIRA FILHO, Antônio de Moura. Análise do Art Nouveau no Estado de Pernambuco (1870–1939). Orientador: do Prof. Dr. Paulo Martin Souto Maior. 2007. 238 f. Dissertação (Mestrado) – Programa de Pós-graduação em Arqueologia, CFCH, Universidade Federal de Pernambuco, Recife, 2007.


 

domingo, 2 de julho de 2023

O SALTO DA ONÇA DE MUITOS BECOS: uma introdução à história de Santo Antônio/RN por meio de suas ruas



Estudar a história de Santo Antônio do Salto da Onça/RN requer o entendimento de que a economia local de base comercial e agropastoril, sobretudo algodoeira, exerceu grande influência no planejamento urbano e arquitetônico santo-antoniense.


Ao ser emancipada, em 1890, a Villa de Santo Antônio de Goyaninha, possuía uma única rua, a Rua Grande. Nela, aconteciam os eventos sociais públicos mais importantes como as vaquejadas anuais, as procissões em honra da padroeira Nossa Senhora da Conceição e a feira-livre semanal, realizada aos sábados desde os anos 1850. A emancipação política deu a Santo Antônio uma autonomia sem igual, um fator fundamental para seu crescimento progressivo e muito bem ordenado, pelo menos inicialmente, como pode ser demonstrado por meio das imagens 1 e 2. Apesar das imagens serem da década de 1970, elas podem nos demonstrar uma visão da Rua Grande movimentada, com seus casarios, casas comerciais e o delineamento urbano traçado no início do século XX.




Imagem 1: A Rua Grande, 197?. Fonte: Acervo Isabel Xavier.



Imagem 2: A Rua Grande, 1971. Fonte: Acervo Isabel Xavier.



Em 1909, a Intendência da Villa de Santo Antônio estabeleceu uma das primeiras legislações sanitaristas e urbanistas da região. Essa regulamentação definia, por exemplo, a altura mínima das casas, as dimensões das calçadas e das portas das residências e proibiam o despejo de esgotos para as ruas e becos.

Na década de 1910, o município contava com pouco mais de 10 mil habitantes. A produção de algodão, carne, cerrais, farinha e couro resultava em uma arrecadação de impostos que ultrapassava as cifras de milhares de Réis, em valores anuais. Durante os seus 20 primeiros anos de autonomia política, entre 1890 e 1910, a Rua Grande já tinha atingido seu primeiro quilômetro de comprimento e seus mais de 10 quarteirões eram cercados por becos e ruas que se estendiam conectando mais de 50 comunidades rurais, sítios, povoações e vilas circunvizinhas.


A Rua Grande chegou a possuir, durante essa época, lojas de secos e molhados, lojas de tecidos (comumente chamados de fazendas), mercearias, bens importados, e armazéns de utensílios agrários, somando em torno de 20 casas de comércio. As casas residenciais também faziam parte da estrutura quilométrica da Rua Grande. Dezenas de casas largas com janelas e portas altas dividiam espaço com os casarios modernos em estilo eclético e em, muitos deles eram cercados por jardins, umas verdadeiras chácaras muradas que davam o charme sem igual à Rua Grande, como podemos observar nas imagens 3 e 4, os casarios construídos durante as décadas de 1910-20 que ainda hoje sobrevivem.




Imagem 3: Casarão Cecílio Costa, 2023. Fonte: o autor.




Imagem 4: Casarão Aníbal Barbalho, 2023. Fonte: o autor.


Ainda no início do século XX, para acomodar o crescimento populacional, a Intendência planejou e traçou a Rua de Trás. Esse novo logradouro contava com calçadas medindo oito palmos de largura e sem degraus, uma obediência na legislação de 1909. Suas dezenas de edificações residenciais, principalmente para alugueis, foram feitas por comerciantes enriquecidos pelo algodão que moravam na Rua Grande.


Diversas moradias baixas, de paredes conjugadas eram construídas com tijolos crus e alguns mal cozidos. O adobe misturado à cal e pau a pique estavam entre as técnicas construtivas mais usadas; raramente se usava pedras. As coberturas dessas casas eram feitas de troncos de carnaúbas e caibros de estacas circulares, com telhas sem forma padrão, porém bem cozidas.


A Rua de Trás apresentava um contraste marcante em relação à Rua Grande. Enquanto a Rua Grande era habitada pela elite local em residências largas, de fachadas altas e cheias de janelas, a Rua de Trás era formada por casas baixas e de estruturas simples com uma porta e uma janela e pelos os quintais das casas da Rua Grande, sem muros, limitados por cercas de arames, cercas vivas de garrancheiras e cercas de varas alinhadas. Esses quintais possuíam pocilgas onde se criavam porcos, galinhas e algumas cabras, haviam pomares com cajueiros e laranjeiras. Os cavalos, meio de transporte mais comum entre a elite agrária e comercial, eram amarrados às cercas e alguns poucos quintais possuíam cocheiras cobertas para os cavalos serem alimentados.


A feira livre era o principal ponto de encontro dos munícipes, dos comerciantes distantes e de trabalhadores que ganhavam a vida em trabalhos pouco lucrativos e muito cansativos, como os transportadores de mercadorias. Aos sábados, o dia de feira, o comércio superlotava a Rua Grande, as bancas de madeira com tendas de lona eram raras de se ver, o mais comum era que os produtos fossem comercializados em tapetes de palha, chamados de esteira, estendidos pelo chão de barro.


Na Rua de Trás, ficavam os cavalos amarrados nas cercas, em ganchos, argolas e armadores presos às paredes das casas ou no meio-fio das calçadas, como podemos ver na imagem 5, uma argola centenária sobrevivente na Rua Padre Cerveira.



Imagem 5: Argola de ferro para cavalo, 2023. Fonte: o autor.




Entretanto, em fevereiro 1904, um crime muda a história da Villa de Santo Antônio para sempre. O padre José Luiz Cerveira, português de nascimento, homeopata, fazendeiro, dono de casas na Villa de Santo Antônio e de duas fazendas, uma no sítio Jacu-mirim e outra no sítio Lajes, era um importante membro da elite política local. Exerceu cargos de intendente e de presidente do Conselho de Intendência Municipal da Villa de Santo Antônio. Era membro do partido Republicano do Rio Grande do Norte, forte aliado da família Albuquerque Maranhão.


Quando Santo Antônio ainda era uma povoação de Goyaninha, o padre Cerveira se envolvia em fortes disputas políticas com coronéis políticos regionais. A notícia das facadas que levaram o padre à morte na sua Fazenda Lajes ultrapassou as fronteiras do Rio Grande do Norte, sendo divulgada até no Rio de Janeiro, então capital da República, como podemos visualizar nas imagens 6 e 7, cópias do Jornal do Comércio, publicado em 18 de abril de 1904, no Rio de Janeiro.



Imagem 6: Jornal do Comércio, 1904. Fonte: Hemeroteca Digital, 2023.



Imagem 7: Recorte do Jornal do Comércio, 1904. Fonte: Hemeroteca Digital, 2023.



Em sua homenagem, os intendentes da Villa de Santo Antônio mudaram nome da Rua de Trás, batizaram-na de Rua Padre Cerveira. O padre, homeopata, político e fazendeiro, foi imortalizado no nome da rua, e a rua transformada em um monumento em sua homenagem.

Entre os anos 1920 e 1930, o crescimento da Villa se direcionava para os lados. Os becos da Rua Grande e da Rua Padre Cerveira se expandiram em direção ao poente e ao nascente. Um novo centro comercial foi sendo organizado e ganhando forma em um terreno mais plano e mais largo do que a Rua Grande, onde foi construído, pouco antes de 1930, um mercado público. Esse edifício representou, durante muitos anos, o poder econômico que a fartura do ouro branco, isto é, o algodão, pode oferecer de melhor enquanto equipamento comercial aliado à vida urbana. A sua arquitetura em Art Déco, como pode ser observado na imagem 8, e sua estrutura semelhante à igreja matriz ainda em construção, impactou a vida social de Santo Antônio de tal forma que a colocou em um patamar econômico superior à todas vilas e municípios da região. Não existia mercado algum na região que se comparasse ao de Santo Antônio, em estrutura, qualidade de serviço e em capacidade de comercialização.



Imagem 8: O Mercado Público, 2023. Fonte: o autor.



Nessa nova rua que se formava, comerciantes construíam mais casarios adornados em Art Déco, com calçadas largas e fachadas cheias de portas para o fluxo de clientes. Não temos acesso à fotografias da época das primeiras casas comerciais da Rua do Mercado, mas as imagens 9 e 10 podem nos oferecer um recurso imaginativo de como eram as fachadas cheias de faixas e frisos, platibandas de escalonamentos, marca do Art Déco, e as várias portas que compunham o conjunto da edificação.




Imagem 9: Casa Comercial na Rua do Mercado, 2023. Fonte: o autor.



Imagem 10: Casa Comercial na Rua do Mercado, 2023. Fonte: o autor.



Ainda nos anos 1930, as vaquejadas perderam espaço na Rua Grande e foram transferidas para a Rua Padre Cerveira. Durante a década de 1930 e 1940, a feira-livre semanal foi transferida para o largo em torno do mercado e para trás da igreja que ainda estava sendo construída. A partir de 1940, uma praça foi erguida à frente do mercado e chamada de Praça Coronel José Lúcio, hoje conhecida como a Praça Getúlio Vargas.

Dois outros becos cresciam em direção ao poente e faziam a conexão entre as duas ruas e o cemitério novo, hoje chamado de Cemitério São Judas Tadeu. Hoje são as travessas Padre Andrade e Getúlio Vargas, como pode ser visto na imagem 11. O terceiro beco ligava a Villa de Santo Antônio, pela Rua Padre Cerveira ao povoado da Lagoa do Riacho, local onde hoje é o Hospital Regional Lindolfo Gomes Vidal. Esse beco terminava em conjunto de pedras de onde se formava um caminho cheio de pedregulhos, hoje é a Rua Marechal Floriano, mais conhecida por Rua da Pedra.




Imagem 11: Travessa Getúlio Vargas,2023. Fonte: o autor.



Outros becos ficavam um ao norte para as povoações de Serrinha e de Lagoa das Pedras, passando pelos sítios Tinguijado e Jacu-mirim; um beco para o sul em direção à Vila de Nova Cruz, passando pelo sítio Arapuá. Ao leste ficavam a saída para o Lugar da Passagem e para a Povoação do Brejinho e outro beco em direção à Vila de Goyaninha.


O crescimento desordenado de Santo Antônio é uma marca da segunda metade do século XX. Pois, é a partir dos anos 1950 que percebemos uma explosão populacional e a cidade não foi organizada nem pensada a fim de oferecer equipamentos urbanos e moradias em condições de qualidade para os novos habitantes. Bairros foram se formando em amontoados de casas, ruas sem planejamento, sem saneamento e sem políticas públicas que ofereçam muito conforto.


Porém, a Rua Grande durante os anos 1960 e 1970 parece ser uma exceção. Ela ganhou um complexo sistema de paisagismo e urbanismo a partir da implementação de canteiros centrais arborizados, bancos de marmorite vermelho, como pode ser visto na imagem 12, e uma praça com quadra de esportes e parque infantil, como podemos observar na imagem 13.




Imagem 12: Banco de Marmorite Vermelho dos anos 1960, 2023. Fonte: o autor.





Imagem 13: Praça da Rua Grande, 197?. Fonte: Blog Alex Pontes, 2023.


Alguns desses bancos duraram até o início do século XXI pois com algumas reformas urbanas eles foram realocados na Rua Marechal Floriano, onde foi fotografado o banco da imagem 12. Quanto a fotografia da praça, na imagem 13, tudo indica que foi retirada pela professora Ana Rosa Maia, mas foi retirada do Blog Alex Pontes, um importante meio de divulgação de história de Santo Antônio.

Outro equipamento urbano que nos chama atenção na imagem 13 é a grande quantidade de postes de iluminação pública por rede elétrica. Durante muitos anos, essa rede elétrica foi um símbolo de desenvolvimento e passou a ser ofertada em Santo Antônio a partir dos anos 1960.

Foi trazida à cidade junto com a rede de telefonia e com melhoramentos no sistema postal. Os postes de madeira de aroeira passaram a ser trocados por concreto armado apenas durante os fins da década de 1960, como podemos observar na imagem 14, uma fotografia colorida digitalmente, mas a cópia da fotografia original está disponível no Blog Alex Pontes e tudo indica que foi fotografada também pela professora Ana Rosa Maia.




Imagem 14: A Rua Grande, 196?. Fonte Blog Alex Pontes, 2023. Colorida Digitalmente.


A antiga rede elétrica do sistema de iluminação por motor a diesel foi em grande medida reutilizada pelo novo sistema elétrico. Porém, o antigo motor desapareceu sem deixar rastros, nem de sua origem nem de seu destino. Sabemos apenas que ele ficou por muito tempo na Rua Padre Cerveira e dessa rua saia a fiação que conduzia a energia elétrica às casas e às demais ruas. Por isso ela ainda é chamada de Rua do Motor.

Visitando atualmente a Rua Padre Cerveira, podemos identificar que as antigas casinhas do início do século XX não existem mais, restam apenas alguns poucos elementos das casas estreitas de uma porta e de uma janela, como podemos ver nas imagens 15 e 16. As casas de hoje podem ser novas com varandas de vidro, mas são construídas em propriedades estreitas, apresentam uma janela ao lado da porta.




Imagem 15: Casario de uma janela da Rua Padre Cerveira, 2023. Fonte: o autor.




Imagem 16: Casario de uma janela da Rua Padre Cerveira, 2023. Fonte: o autor.



Os antigos quintais de pomares e pocilgas da Rua Grande foram transformados em garagens, armazéns de algodão e depósitos sem vida, como podemos observar nas imagens 17, 18, 19 e 20. A partir dos anos 1960-1970 economia algodoeira entrou em decadência e atualmente a feira-livre está em declínio, impossibilitada de competir com os grandes supermercados.




Imagem 17: Garagem na Rua Padre Cerveira, 2023. Fonte: o autor.




Imagem 18: Antigo Casario na Rua Padre Cerveira, 2023. Fonte: o autor.




Imagem 19: Antigo armazém reformado na Rua Padre Cerveira, 2023. Fonte: o autor.




Imagem 20: Antigo Casarão na Rua Padre Cerveira, 2023. Fonte: o autor.



Das antigas construções que marcaram épocas, restam apenas ruinas que podem nos fazer lembrar que fazemos parte de algo maior. Ao percorrermos as ruas e becos de nossa cidade, sejamos influenciados a investigarmos o nosso passado, que tenhamos curiosidade sobre a história das casas e sejamos incentivados a produzirmos um maior respeito à nossa história.



Um agradecimento especial a Isabel Xavier pelas fotografias cedidas.
OBS.: ao ler este artigo, você pode sentir falta de mais fontes para certificarem a pesquisa que embasa a escrita, entretanto, por se tratar de um recorte de uma pesquisa de mestrado, no momento, o autor não pode divulgar as fontes com mais detalhes devido o ineditismo da pesquisa.


Para referenciar este artigo:
NOGUEIRA, Vyctor. O SALTO DA ONÇA DE MUITOS BECOS: uma introdução à história de Santo Antônio/RN por meio de suas ruas. In. Blog Salto da Onça: Memória e Patrimônio. Disponível em: https://saltodaoncamemoriaepatrimonio.blogspot.com/2023/07/o-salto-da-onca-de-muitos-becos-uma.html. Acesso em: dia mes. ano



REFERÊNCIAS:


PONTES, Alex. Santo Antonio/RN: fotos antigas de nossa querida terra da onça!!!!. Blog Do Alex Pontes. Santo Antônio/RN, 25 jul. 2012. Disponível em: https://alexpontesrn.blogspot.com/2012/07/santo-antoniorn-fotos-antigas-de-nossa.html. Acesso em: 16 jun. 2023.

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