segunda-feira, 26 de junho de 2023

MEMÓRIA PERDIDA DE UMA GERAÇÃO: uma curiosa e inesquecível gincana em Santo Antônio/RN nos anos 1970




Estamos construindo memórias coletivas significativas para as futuras gerações?


 

Hoje vamos falar de um evento que aqueles que têm menos de 40 anos não puderam vivenciar. Nos finais dos anos 1970 a cidade de Santo Antônio foi palco por um dia de uma das mais inusitadas e extravagantes competições entre os jovens estudantes do Grupo Dr. Manoel Dantas e a Escola Celso Garcia.

A Gincana entre essas duas escolas marcou a memória e a história local para além de uma geração, pois a cidade se mobilizou em prol dos alunos ensandecidos na disputa em busca dos itens apresentados em uma lista para lá de maluca.

Carros de taxistas eram fretados e percorriam as ruas, os sítios e as comunidades rurais no município de Santo Antônio/RN numa corrida desenfreada transportando as equipes de estudantes a fim de vasculharem todos os lugares do município em busca dos itens excêntricos para ganharem a pontuação e levarem o troféu para sua escola.

Além de responderem à perguntas das disciplinas escolares, como história, geografia, língua portuguesa e de encherem bexigas, fazia parte da competição que cada equipe apresentasse itens dispostos em uma lista entregue horas antes da Gincana. Pontuava a equipe que apresentasse itens como:

O homem mais velho e a mulher mais velha.

O livro mais antigo.

O maior bode.

A mulher com mais filhos.

O homem mais gordo e a mulher mais gorda.


A cidade fervilhava enquanto a juventude percorria as casas e as ruas em busca desses componentes para garantirem vitória na Gincana.

Ao final da tarde, havia a reunião de todos na praça. Pais, professores, amigos, curiosos, lotavam a Rua Grande para acompanharem a competição em meios aos aplausos e gritos de torcidas.

Depois dos jogos de perguntas e respostas, os jurados conferiam os documentos das crianças para comprovar serem todos irmãos e filhos da mesma mãe. Verificavam as alturas e as idades dos mais altos e dos mais velhos, respectivamente. Mediam os bodes e premiavam o maior.




Na memória coletiva dos nossos parentes e amigos mais velhos, restam umas ótimas lembranças daqueles que vivenciaram uma experiência única. Nós, os jovens da nossa geração e muitos adultos da geração dos nossos pais, jamais saberemos o nível de socialização que a cidade de Santo Antônio/RN possuía nos anos 1970.

Pelas conversas e entrevistas, dá para entender que o mundo era outro, todos se conheciam e as percepções de mundo e de competição estão muito distantes da nossa realidade.

Esse evento nos leva a refletir sobre a importância da memória e da história local. Através dessas histórias que são compartilhadas pelos mais velhos, podemos vislumbrar um passado em que as relações eram mais próximas e as interações sociais mais intensas. 

Quase não é possível imaginar uma cidade que fervilhava de vida, onde todos se conheciam e formavam uma rede de conexões que transcendia as barreiras das escolas, estendendo-se por toda a comunidade.

Essa competição, apesar de sua natureza divertida e inusitada, revela muito mais do que uma simples gincana entre escolas. Ela nos mostra um retrato de uma época em que as pessoas estavam mais envolvidas em sua comunidade, conheciam seus vizinhos e se importavam em ajudar uns aos outros. 

Essa memória coletiva é um tesouro que nos conecta com o passado e nos faz refletir sobre a importância de preservar as histórias e tradições locais.

À medida que o tempo passa e as gerações se renovam, é fácil se distanciar dessa memória coletiva e das experiências que moldaram a identidade da cidade. No entanto, ao ouvir essas histórias e vermos fotografias que nos fazem refletir sobre o passado, podemos imaginar um pouco dessa essência perdida e compreender as raízes que nos conectam ao lugar em que vivemos.

A Gincana entre as escolas de Santo Antônio/RN nos fins anos 1970 foi um evento singular que deixou uma marca indelével na memória dos santo-antonienses. Ao relembrarmos essa história, somos convidados a refletirmos: estamos construindo memórias coletivas significativas para as futuras gerações, assim como a geração anterior?


Agradecimento especial à professora Ione Delgado pelas imagens cedidas .


Para referenciar este artigo:

NOGUEIRA, Vyctor. MEMÓRIA PERDIDA DE UMA GERAÇÃO: uma curiosa e inesquecível gincana em Santo Antônio/RN  nos anos 1970. BLOG SALTO DA ONÇA: Memória e Patrimônio. 26 jun. 2023. Disponível em: https://saltodaoncamemoriaepatrimonio.blogspot.com/2023/06/memoria-perdida-de-uma-geracao-uma.html. Acesso em: dia mes. ano.    

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